domingo, 21 de dezembro de 2008

5 Perguntas para Bira Dantas

Bira Dantas tem uma história antiga de paixão pelos quadrinhos. No final da década de 70, ainda adolescente, trabalhou na revista dos Trapalhões. Desde então, vem colaborando com suas charges e ilustrações para boletins sindicais, publicações empresariais, jornais, revistas, apostilas. No último final de semana, lançou sua adaptação em quadrinhos do clássico da literatura Dom Quixote.

É ele quem responde as cinco perguntas do Papo de Quadrinho desta semana:

1) Como foi desenhar a revista dos Trapalhões no auge da trupe?
Foi uma mistura de deslumbramento com intensa vontade de aprender. Afinal eu estava no meio de quadrinhistas consagrados da Era de Ouro como Sérgio Lima e João Baptista Queiroz, e feras como Carlos Cárcamo (que desenvolveu o model sheet e as primeiras HQs), Vetillo, Bonini, Watson, Kimura...

Além disso, o Ely era um cara muito atuante, gostava de discutir a produção com a gente. Montou uma oficina com palestras dos principais profissionais do estúdio. Eu era novinho, tinha 16, 17 anos, achava o máximo. Passavam livreiros com livros de arte e quadrinhos por lá. Eu não comprava nada, era tudo importado e caro. Mas via Frazetta, Hal Foster, Alex Raymond, Moebius, passando ali na frente.

A equipe era mais ou menos essa:
Roteiristas: Sérgio Valezin, Orlando A. S. Costa, Genival Souza, Flávio da Costa Pinheiro, Ricardo Martins.

Desenhistas: Carlo Cárcamo, eu (Ubiratan Dantas), Eduardo Vetillo, Carlos Alberto Migliorin, Watson Portela, Domingos Souza (Mingo-capas) irmão do Genival, Ademir da Silva Pontes, Fernando Bonini

Arte-finalistas/Letristas: Waldemar Watanabe, Wanderley Feliciano, João Andrade (irmão do cartunista Floreal), Waldir Odorisso, Joel França

Cores: Déborah Maluf, Yara Raphael

Coordenação: Theresa Rodrigues (mulher do Ely) e Eliete R. Barbosa (filha).

2) Em 2002, você desenhou a HQ "Lula, a História de um Vencedor". Depois de seis anos de governo do PT, você ainda mantém a mesma opinião?
Eu continuo defendendo o governo Lula. Comparando com o futebol, acho que ele deu um show de bola no quesito distribuição de renda, domínio da economia e recuperação de emprego. Veja só, esta é a primeira vez que o Brasil passa por uma crise externa sem pedir dinheiro emprestado para o FMI. Se dependesse da cobertura da Imprensa, o Brasil estaria em total desespero com a crise econômica americana. A gente estaria paralisado, sem comprar presentes, esperando o Natal ser um fiasco e as empresas falirem. Pode ser que a marola tenha crescido um pouco mais do que o governo achou que seria. Mas, neste ponto, ele segurou a onda legal e provou que não era o tsunami que a imprensa (e os comentaristas do apocalipse) previu.

Apesar disso, pessoas como Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio e Silvinho pisaram na bola feio e quase comprometeram a partida. Isso eu não perdôo. Eles erraram e devem reconhecer! Não em relação ao mensalão, mas sim quanto a se beneficiarem pessoalmente de favores, presentes e agrados, e ao uso do Caixa 2. O engraçado é que os outros partidos usaram e continuam usando. Mas eles podem, né? A mídia deixa...

3) Você tem outros trabalhos ligados à política, particularmente sindicatos e a CUT. Como se deram sua entrada e permanência neste segmento?
Participei da pré-fundação do PT em 1979. Em 1980, fui dos primeiros filiados e participava do núcleo de base do Tatuapé, fazia cartazes pro movimento popular e de saúde. E produzia charges para a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Assim conheci, em 81, a Oposição dos Químicos/SP. Eu sempre desenhava um personagem negro de boné e uma mulher de cabelos escuros e enrolados, com toca e avental branco.

Fazia o maior sucesso nas portas de fábrica. Eles ganharam a eleição estourado e me convidaram pra trabalhar no Departamento de Imprensa. Quando fui contratado pelo sindicato sugeriram que eles virassem personagens oficiais. Ele recebeu o nome de Chico Ácido e ela foi chamada de Maria dos Remédios. Além de aparecerem em charges e avisos no boletim diário, eles protagonizavam tiras em quadrinhos e até um gibi colorido com 20 mil exemplares pra Campanha de Sindicalização. Em 1988, resolvi mudar de ares e queria o sossego de uma cidade do interior. Já colaborava com o Sinergia, ofereci meu passe e eles bancaram. No meu lugar ficou o Paulo Monteiro, que era cartunista do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e um grande criador de tiras operárias.

4) Como está sendo a experiência de participar do time brasileiro da revista Mad?
Sou fã da MAD há muito tempo. Infelizmente, não conheci o esquema de trabalho com o Ota, mas o processo com o Raphael (editor) é muito tranqüilo. Ele passa a pauta da edição e distribui o que ele pensou combinando com o perfil de cada colaborador. E deu uma inflada no time de brazucas. Eu fiquei muito satisfeito com o resultado, não só visual, mas de conteúdo.

5) Que conselhos você pode dar aos jovens artistas que ambicionam entrar e se estabelecer no mercado de quadrinhos?
Leia muito. Tudo! Não só HQ. Você só produz uma boa vitamina se tiver frutas de qualidade sendo batidas. Por isso, leia literatura (clássicos, romances, filosofia, biografias, ficção, aventura, underground), jornais, revistas e, claro, quadrinhos. Não tenha preconceito. Esse é um dos maiores defeitos que alguém pode ter. Não deixe de ler algo só porque você “acha” que não gosta. Tanta gente não lê tanta coisa boa, porque “acha” que não gosta. E perdem ótimas oportunidades de aprender coisas importantes ali... Desenhe muito do natural, recorte fotos de jornais e revistas e monte um arquivo pessoal. O que eu montei com 18 anos, uso até hoje. Só que fiquei relaxado e não colo mais em papel sulfite. Guardo em pastas reais e virtuais. Não olhe apenas para os artistas que você considera fantásticos, descubra quem os influenciou, estude o trabalho deles. Amplie o seu universo. Faça cursos, aprenda técnicas, seja versátil.

Assim, o seu futuro poderá ser brilhante!

Bira Dantas mantém seu fotolog atualizado diariamente. Para conhecer um pouco mais do trabalho deste premiado artista nacional, clique aqui.

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