segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

5 Perguntas para Gian Danton

O professor universitário Gian Danton (pseudônimo de Ivan Carlo Andrade de Oliveira) já recebeu diversos prêmios por seus roteiros, entre eles o HQ Mix de 1999 e 2000, o Ângelo Agostini e o prêmio da Associação Brasileira de arte Fantástica.

Ele é autor de vários artigos e livros, especialmente sobre o assunto que mais domina: roteiros. O mais recente deles, Roteiro para Histórias em Quadrinhos, acaba de ser lançado pela Editora Popmídia.

Gian Danton responde as 5 Perguntas do Papo de Quadrinho desta semana:

1) O que caracteriza um bom roteiro para quadrinhos?
Acho que não há uma única resposta para isso, já que existem muitos estilos e muitas formas de fazer quadrinhos. Mas algumas coisas fazem com que um roteiro seja bom. O primeiro, creio, é que o texto toque a pessoa, começando pelo próprio escritor. Alan Moore diz que um roteiro de terror deve dar medo em quem escreve. Também é importante uma boa caracterização de personagens e ambientação. O personagem deve ter uma história de vida, que orienta suas ações no presente. Daí a importância dos flashbacks em Lost, por exemplo. E a escolha do ambiente influencia diretamente nos rumos da história, como em Aldebaran, do brasileiro Leo, em que pessoas vivendo num mundo aquático têm comportamento diferente de pessoas que vivem num mundo árido. A pesquisa também é importante para a construção de um bom roteiro. Se vou escrever uma história sobre o Egito, devo fazer uma boa pesquisa sobre aquele país.

2) Tenho notado que os jovens que ambicionam profissionalizar-se como quadrinhistas são muito mais preocupados com o desenho que com o roteiro. A que você atribui isso?
Infelizmente, o desenho é o que mais salta aos olhos. A maioria começa a comprar quadrinhos por causa dos desenhos. Só que o que faz a pessoa continuar comprando é o roteiro, mas poucos quadrinhistas percebem isso. Veja a Image, que era uma editora de revistas-pôster... Parece que o fracasso da Image não ensinou muito aos novos quadrinhistas que pretendem entrar no mercado. Se bem que essa é uma visão compartilhada até por pessoas de outras mídias. Os desenhistas costumam ser mais valorizados pela mídia do que os roteiristas. Um exemplo: quando foi lançada a revista Mulher Diaba no rastro de Lampião, um jornalista perguntou para o Flávio Colin se ele tinha pesquisado literatura de cordel para fazer a história. O jornalista não percebeu que o roteirista era o Ataíde Bras (este sim, pesquisou muito literatura de cordel para escrever o roteiro).

3) Indique uma HQ que ilustra o que é um roteiro bem construído. Por favor, justifique a escolha.
Nossa, agora você me pegou! Tem tantas... Só de cabeça, eu poderia citar muitas, mas vou me limitar a uma que está em voga: Watchmen. Essa HQ é um dos exemplos mais bem acabados de um bom roteiro. Para começar, Alan Moore usou um estilo de narrativa para cada núcleo ou personagem. Os textos de Rorschach são diferentes dos Contos do Cargueiro Negro, que são diferentes de outros personagens, como o Dr. Manhattan. Só um roteirista absolutamente genial conseguiria dominar tantos estilos ao mesmo tempo.

4) Na outra ponta, cite alguma boa história que foi desperdiçada por um roteiro ruim...
Eu costumo dizer que Alan Moore tem a capacidade de transformar m... em ouro, como fez com o Miracleman. Da mesma forma, tem roteirista que acaba transformando ouro em m... O exemplo mais famoso é A morte do Super-Homem. Poderia ter sido uma grande HQ, mas entrou para a história como um dos roteiros mais sofríveis de todos os tempos. As coisas acontecem sem muita lógica, os personagens parece não ter motivação... sem falar da enrolação que foi aquilo. Deus nos defenda!

5) Você é um especialista em Watchmen, tendo inclusive lançado o livro Watchmen e a Teoria do Caos, em 2005. Qual sua expectativa para a adaptação cinematográfica que estréia em março?
Olha, pelo que tenho visto nos traileres, tem coisa muito boa e tem coisa meio estranha. Não acho uma heresia terem modificado um pouco a trama. Desde que se mantenha o espírito original. O que me preocupa é se o sentido original for modificado. Por exemplo, na HQ, o Coruja é um frustrado, um cara que não se deu bem na vida e usa a fantasia de super-herói como estímulo erótico. Mas o trailer mostra ele como uma espécie de Batman. Tomara que tenha sido uma interpretação errada da minha parte. Agora, quanto ao visual, não há o que reclamar...

Gian Danton mantém um blog sobre notícias do mercado de quadrinhos e outro com preciosas dicas sobre roteirização de HQs. Não deixe de visitar.

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